quarta-feira, 10 de maio de 2017

Sopro da Morte

Ao caminhar por corredores de pedra calcária à vista dos nomes gravados nas paredes. Sobre mármore ressoam meus passos e pelos tetos o silêncio urra. Nas mentes dos caminhantes tal silêncio não existe, ignoram seu apelo por socorro. Conhecem bem a voz que chama, é a morte outra vez sussurrando.
Sabe onde estão os campos? O ferro frio sobre o qual deitam os homens? Ora, quem lhe disse que ainda têm vida? Quem pensou em tamanha heresia?
Pétridos corpos escamados e dilacerados. São bolos de carne, amontoados de células. Tão frios e duros que todos fingem mexer com pedras. Como se a vida jamais os houvesse habitado. São metidos em potes com todo o cuidado. Expostos ao Sol como espécimes para estudo.
Por mais que as cruzes e placas evoquem o cuidado, todos ignoram a história destas pessoas, não as veem como parentes que merecem respeito. Onde está a poesia da Morte? Onde estão os médicos humanos? Se estes estudantes até a morte ignoram, ouvirão os vivos que estão nos braços dela?
Enquanto alguns veem força neste ato, esquecem-se que vida e morte são irmãs. Juntas moldam a própria existência e juntas fazem seu coro em harmonia. Sem uma, a outra se perde.
Portanto, conhecer e ouvir o canto da Morte é só o que permite manter acesa a chama da vida. Como a brisa que o fogo aviva, o sopro da Morte incendeia o coração dos vivos que o sentem.

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