segunda-feira, 25 de novembro de 2019

XXVII

Nos treinam para a morte como treinam soldados para a guerra.

Todos os dias é ela que nos circunda. Os corpos jazem despedaçados ao nosso redor, conservados para além de sua própria existência. Para além de sua própria vontade.

A cada aula adentramos o campo de batalha e vemos nada além da destruição que nós mesmos causamos.

Como um vidente, temos a visão involuntária de nosso futuro e nada que façamos pode impedir isso.

Um destino único, mil almas diferentes. E de que adiantou viver? Sofrimento após sofrimento enquanto aguardavam o fim já premeditado.

Nos treinam como soldados.

Treinam soldados para a guerra, dizendo que isso mantém a paz.

Nos treinam para a morte e esperam que salvemos vidas.

Talvez os soldados devessem de fato se traumatizar com os horrores da guerra antes de enfrentá-los em batalha...

Talvez isso nos prepare para a morte que nos espera...

Talvez seja tudo em vão e nós apenas sofremos um pouco mais antes de chegar lá.

domingo, 24 de novembro de 2019

De volta aos Campos

Em meio aos cadáveres eu danço
Movo os músculos que eles não podem
Vivo a vida que eles escondem
E me deixo levar pelo rio manso

Os corpos dilacerados ao meu redor
Dormem torturados, mexidos, acabados
Sequer na morte se livraram da dor
E, agora, nos campos de ferro estão deitados

E eu danço, penso, canso
E seus corpos jazem lá
Estudados por anos e anos

E um dia serei eu, rá!
Mas os campos de ferro não estão nos meus planos
Só espero aproveitar o lado de cá.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Soldado

Sinta essa dor do mundo,
pois tu também faz parte dele.
Sinta a cada segundo
Os prantos dos que vivem nele.

E não se deixe enganar
Só porque não sente o mesmo
Não significa ignorar
A vida e a morte à esmo.

Então levanta, desfalecido
Bota força nessas pernas
Estende tua mão ao caído
E abraça essas almas ternas

Tu também está aqui
Tu também vai sofrer
Então não tente se persuadir.
Se lance ao mundo, e ele receberá você.

XXVI

Faço da oração meu poema e do poema meu desabafo.
É isso que estou a fazer. Vou para longe dos meus portos, das minhas bases, de tudo que um dia conheci. Vou para longe do que fui minha vida toda.
Enfrentarei o mar aberto. É isso. Sem base alguma onde me apoiar, senão em portos precários pelo caminho. Navegando em um mero barco a remo. Sequer uma nau eu pude ter.
Bem, quem sabe eu faça como Klint e consiga sobreviver.
De qualquer forma estou indo para uma cidade que nunca conheci, enfrentar um clima que nunca suportei, com pessoas que jamais ouvi falar e cursando um curso que me faz sofrer. Pois eu sinto a dor do soldado desconhecido, sinto a dor dos corpos moribundos. Eu sinto pelos que não tiveram o que tenho e pelos que tiveram muito mais.
Os fetos que jamais souberam o que é viver e os adultos que escolheram não saber.
Eu sinto que navegarei às cegas em um mar de trevas. Sinto que cada remada me custará a energia de anos que não tive. Mas ainda assim cá estou. Em pé, frente aos demônios de dentro e fora. Pronto a enfrentar meus desafios enquanto tento conter a fera que urra pedindo destruição. Cá estou eu tentando me convencer do porquê salvar vidas se tirá-las é tão mais simples. Do porque eu estou fazendo tudo isso.
Pois aqui vai: eu também não sei. Não sei o que a humanidade precisa. E bem... talvez não seja de mais um humano. Mas talvez seja exatamente isso. OH CÉUS!

XXV

Sei que não deveria me sentir assim, mas quem manda nessas coisas?
Não me sinto com um lar de fato
Não me sinto em casa em lugar nenhum
Fui um viajante por um ano completo e agora sinto dificuldade de me fixar
Me sinto lutando contra minha essência a cada segundo
Sinceramente...
Um ônibus pra mim é mais acolhedor do q meu quarto
E cá estou... vivendo os últimos dias antes da minha maior viagem
A viagem da minha vida, eu diria
Prestes a construir minha vida longe de tudo que conheço
Longe da minha Mantiqueira, longe da Atlântica
Indo para os Guimarães e o Cerrado
O que setenta anos atrás sequer existia... bem... lá vamos nós

Winter

What if the spring don't come
And winter is all we have
If we could feel to the bone
That we never had any path

If there is no tomorow
And today is our forever
Like a shadow we follow
For now and ever

If we had just this moment of living
Like a river when waterfall starts
Our soul keeps bleeding
And we can feel the last beat of our hearts

And we realize that was never a tomorow
That spring and winter were the same thing
We discover that all this time of sorrow
Was just a mistake of a human being

Because this is how we live
Day after day, week after week
Pretending to be imortals
While death is right above us

XXIV

Eu alimento minha escuridão, sim...
Porque afinal é como se tu tivesse no teu peito um dragão que tá criando desde bebê
Ele cresce e aprende a incendiar
E nos teus ataques de raiva tu acaba queimando junto
Ele precisa se alimentar de algo
E no fim se tu não der o alimento ele acaba te comendo
E o pior é que cada vez mais ele cresce
É alimentado de qualquer forma, simplesmente vai se desenvolvendo
Seu fogo aumenta, ele vai aprendendo a explodir, vai se alimentando de tudo que você dá
E você tem que crescer mais do que ele ou acaba sendo dominado
Ele aprende a falar e sussurra na tua alma a escuridão que o preenche
Eai tu vai e tranca ele, prende ao chão, soterra e enche de pedra em cima
Pensa que isso vai resolver
Mas esse chão também é tu, cara
E a fera te devora pouco à pouco sem q vc se de conta
Porque tu finge que ela não existe
Mas você tá ligado que essa tua vontade de pular, esse teu impulso de matar, é tudo parte desse demônio que cresce
Tem que aprender a controlar, conviver
Não adianta fingir que não tá aí, parceiro.
Essa escuridão acaba consumindo tua alma se não tiver nada mais pra consumir
Tlg que suas emoções vão se esvaindo né
Então vê se dá um jeito de crescer
Alimenta o demônio e faz dele tua cria de estimação
Não deixa te devorar, irmão... porque ele também não quer isso
Ele também é parte de ti
Sabe que esse Deus em tu ainda equilibra a coisa toda
Mas nem todo choro do mundo pode apagar a ira de um assassino

XXIII

Se pararmos para pensar a respeito da terra sobre a qual estamos, fica evidente a grandeza de tudo isso. Uma pedra que hoje eu toco, quebro, levou milhões de anos para chegar nesse estágio e eu sou a primeira pessoa a tocar em seu interior.
Dentro dessa terra, sobre a qual pisamos a todo instante, se esconde o tesouro de eras já muito passadas e perdidas. A história do nosso planeta, das Grandes Extinções, escondida em pequenas rochas há muito geradas. Frutos da árvore cósmica que permeia a todos nós. Formas da mesma poeira estelar que nos criou. O renascer e permanecer das grandiosas Estrelas primordiais que se foram antes mesmo do nosso próprio Sol se formar.
Aqui, meus caros, jazem os Gigantes Primordiais. Os grandes deuses que morreram para que pudéssemos viver.
E seu túmulo está à distância de um instante.

XXII

E, ainda que o tempo escorra por suas mãos, ela sorri.
Aquilo que a mantém viva é também o que a leva para seu fim.
Aprendeu a ignorar a vida que esvai pouco a pouco de si enquanto aproveita o que lhe resta.
Afinal, quem haverá de viver pensando na morte? Quem quereria sonhar apenas desejando o despertar?
Assim vivemos e assim morremos. Sem saber quando será o último respirar, nem lembrar quando foi o primeiro. Presos ao sonho sem esperar que acabe, ainda que sabendo do inevitável despertar.

XXI

Haverá poesia se em mim não sinto vida?
Não sinto vontade poética, inspiração ou coisa assim.
Apenas preciso liberar essa pressão. Em meio à um mar de lágrimas derramadas por Deus, os trovões demoníacos ecoam como prenúncio de tempestade.
Antes de julgar o todo como caos, deveríamos pensar até onde vai sua ordem.

XX

Em meio à espiral do caos sobrevivem aqueles que mais desejam ordem.
A vontade nos torna imortais, nos traz à vida.
E antes mesmo de pensar qualquer coisa, eu escrevo. Mais rápido que minha mente ou meu coração, eu escrevo. Liberto os demônios e anjos que se acumulam em meu interior.
Acima de tudo preciso aliviar a pressão, preciso externar a guerra que se desenrola em mim.
Nunca houve antes tempo algum.
Se algum dia houve no homem esperança, neste dia ele morreu.
E a verborreia ocorre como doença ou sangria.
Mecanismo de defesa da alma contra seus próprios tormentos.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Peço confiança

Há dias que ninguém deveria viver.
Há erros que não deveriam ocorrer.
Mas ainda que hajam tantas verdades perdidas
Não devemos deixar abertas as feridas.

Gostaria de ter errado uma única vez
E não repetido aquilo que se fez
Gostaria de ter lembrado naquele momento
Mas agora passou e ficou o tormento.

Não sei como posso corrigir
Não sei se posso realmente agir
Nem sei se poderia me desculpar
Foi erro meu, é erro meu errar.

Porém queria que me escutasse
Queria que entendesse, considerasse...
Não te cobro isso, jamais poderia
Mas confia em mim, eu nunca te trairia.

Veteranos 3

Aos guiados por Marianne
 
Três séculos dessa história passaram
E ainda que persista a Liberdade
Lembramos sempre das que eles mataram.
Genocídio à sonhada igualdade
 
Pois tentaram atear fogo em nós
Chamaram-nos bruxas, demônios, loucas
Gritamos ao mundo, mesmo sem voz:
“Cairão os Céus antes de sermos poucas!”
 
Um a um, nossos inimigos morrem
E essa guerra se aproxima do fim
E então levaremos paz aos que sofrem
 
Ao nascer damos à Causa o Sim.
E na morte, nossas almas escorrem
Como rio que alimenta gerações sem fim.

Veteranos 2

Podem dizer que não há fé no mundo
Se esconder e fingir que não há amanhã
Ou até mesmo pular num poço sem fundo
E esquecer que a vida não é a vilã

Mas não pode fugir para sempre
Pois é tu mesmo que te atormenta
E a sombra eterna que te segue
É senão uma mera vestimenta

Então senta aqui pra conversar
Me diz o que tanto te preocupa
Por que não sorrir ou amar?
Pode vir, não sinta culpa

Sei que te ensinaram a sonhar
E você conquistou o que queria
Mas será que te ensinaram a perdoar?
Você reflete a alma desse mundo, menina

Não se acanhe, sei que as vezes é difícil
O curso dos sonhos pode doer também
A vida as vezes corre como um míssil
Mas para e respira que tu vai bem além

sábado, 6 de julho de 2019

Minha verdade

Se eu pudesse algum dia
Ter imaginado a perfeição
Ainda assim não imaginaria
Encontrar no mundo teu coração.

Mais que perfeito é o espírito
A te mover e iluminar
E tua vida é quase rito
E minha mente é o seu altar

Silêncio que não encontro no mundo
Única capaz de me calar
Sequer esse poema faço a fundo
Porque já em ti posso mergulhar

No cobre e no mel
Me deixo afundar
E por vezes vejo o Céu
Apenas por te olhar

(In)Quietos

E por que raios continuamos quietos?
Enquanto queimam o futuro de nossos netos
Descendentes de um presente destruído
E Herdeiros de um futuro esquecido

Pois deixamos que ratos roam nossa casa
Deixamos que dos sonhos nos cortem a asa
Ficamos à mercê de demônios famintos
Numa terra obrigada a derramar-lhe os quintos

Ah! Que infernos caem sobre nós!
Meros mortais largados logo à foz
Do rio de tormentos que ardem n'alma
Malditas lágrimas do Brasil da calma

Inspirem-se no povo curdo!
Povo mudo, cego e surdo!
Burros! Abram olhos e gargantas!
Gritem enquanto podem, suas antas!

Em pouco tempo serão escravizados
Povo estúpido que confia em dados
Mídia corrupta domina sua mente
Pois ataque de uma vez, Gigante Prudente!

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Às Brumas de Mariana

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o Sol - pardo planeta
A escuridão após ele corre... cansa
Como a multidão faminta na Terra

'Stamos em pleno mar... Insano tormento
É o cantar dos loucos sob a lama
Viciados em vida, não em gana
Cujo lamento jamais será ouvido

'Stamos em pleno mar... Gritos e choros
Correm a serra, montanha a montanha
Espelhando o passado que há pouco ocorreu
E se espalham por todo o Brasil

'Stamos em pleno mar... Sufocadas almas
Urram em desespero pelas vidas
Que afogam com pulmões pesados
Sem poder correr, se mover

'Stamos em pleno mar... Muitos voam
Sobrevoam a área, tentam entender
Sem sequer poder imaginar a dor
Dos filhos das Gerais

'Stamos em pleno mar... O infinito
Se espalha para cima e lados
Enquanto o estrondo corroí num segundo
O que anos não poderão recuperar

De onde vem? Para onde vai?
Em ondas de ganância e esquecimento
Navega o homem minésio
Etéreo fingidor

Siriema! Siriema! Ave das Minas,
Tu que dormes hoje na tragédia
Sacode as penas, vaga esperança,
Siriema! Siriema! Dá-me estas asas.

Abre voo! Saia dessa terra, oh esperança!
Sobe mais... inda mais... corre à ameaça
Vê aquilo que se trouxe até ti
Mas que vês ali... Que quadro de amarguras!
É canto funeral! Que tétricas figuras!
Que cena infame e vil! Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

A orquestra estridente não se faz ouvir
Mas aos que param um instante
O chicote ainda se pode sentir.

Aos escravos da própria dor, alívio
Aos capitães de tal terror, justiça.
Que a voz de Castro Alves some às centenas
Que há anos urram soterradas
E que novamente se fazem ouvir.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

XIX

Tenho pena dessas pobres almas incapazes de reconhecer o amor quando veem.
Incapazes de amar. Almas tão sujas que sequer o próprio ser consegue trespassar.
Corações tão afogados em uma profusão de mágoa e amargura.
Olhos que refletem o nada, o vazio. Que não possuem brilho ou vida qualquer.
As janelas da alma que na infância resplandecia, hoje jazem trancadas, bloqueadas por concreto e aço.
O ser torna-se uma prisão para sua própria vida.
A existência perde o sentido.
E assim vaga pelo mundo um corpo opaco, uma rocha ambulante e crescente que engole pouco a pouco a luz restante.
Fácil se torna fazer qualquer coisa. Sem uma alma à mostra, o Inferno toma o leme.

As Lágrimas

As lágrimas antes fossem líquidas, ou mesmo sólidas.
Antes escorressem pelo rosto ou caíssem como rocha.
Antes fossem lágrimas ou pedras quaisquer.
Mas as lágrimas que tenho não possuem forma.
Não jorram de mim nem despencam em cachos.
Minhas lágrimas não saem do meu ser.
Elas desobedecem à física e sobem, adentram.
Deslizam pouco a pouco para dentro de meus olhos
E, ao invés de se despedirem,
Essas lágrimas se misturam ao meu olhar
Elas lavam minha alma para dentro de mim.
Correm pela córnea e marcam minha íris
Minhas lágrimas antes fossem lágrimas
Antes tirassem de mim a tristeza
Mas minhas lágrimas apenas se eternizam
Minhas lágrimas não se vão
Minhas lágrimas se tornam parte de mim
Minhas lágrimas são pequenas almas que guardam a minha própria em segredo.