domingo, 30 de dezembro de 2018

XVII

O horror satisfaz meus mais profundos anseios por caos e destruição.
A morte na arte propicia um alívio para a própria morte mental e me permite movimentar as pernas enquanto finjo viver.
Se em meio ao sangue e ao esperma me sinto vivo, em meio a tripas e caos eu existo.

XVIII

Só me sinto vivo em meio ao sangue e ao esperma.
Apenas com orgasmos e feridas.
Devo escorrer de alguma forma para sentir que minha vida também flui.
Em uma espiral mecânica regada a dor e prazer eu permaneço.
Penso que, talvez, acaso não tivesse tão rígida moral, estaria agora viciado em coisas piores que estas.
Antes viciar em livros que em cousas mais pesadas como novelas e afins.

E no teu olhar encontrei a mim

Essa janela para o paraíso 
Que tu chama de olhos
Reacenderam minha verdade
E me trouxeram de volta à vida

Um segundo a teu lado
Se torna uma eternidade
E toda a eternidade
Passa num segundo

Para sempre contigo não seria suficiente
Nem todas as vidas
Nem todas as pós vidas
Bastariam para mim

Mas ainda assim
Basta um instante a te olhar
Basta sentir teu coração
Basta ouvir tua voz
E toda a espera se torna ínfima

Podem-se passar semanas, meses ou anos
Que me bastará sempre te olhar
Para que eu possa voltar a viver

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Quem diria?

A morte corrói, destrói
Para então reconstruir
O medo paralisa, doí
E eterniza o existir

Felicidade exausta, vibra
Mas também possui fim
E a magia, o abra kadabra
Nunca foi tão mágico assim.

O ódio arde, implode o ser
E a calmaria o sucede
O amor incendeia, pode crer
E só ele não se mede

Só ele permanece
Só ele é verdade
Só ele se sucede
Só ele não tem validade.

Queime, meu querido

Quero ouvir teu sangue ferver
Quero ver tua alma arder
Quero sentir tua carne queimar
E só assim poderei te amar

O sabor de tua vida a escorrer
O borbulhar de tua pele, meu prazer
Os teus olhos a desesperar
Tendo apenas minha visão a te amparar

Meu próprio corpo a se arrepiar
Enquanto ouço você gritar
Pode pedir, rezar, implorar
Mas aqui nem seu Deus poderá te salvar

És meu, pequeno menino
Tua morte alimenta minha vida
És meu, o MEU menino
ME ALIMENTE, ALMA LÍMPIDA!

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

XII

Não sinto o ódio...
Não sou capaz de odiar
Toda vida é vida
Todo ser é humano.

Pérola funesta

Ah, a luz da Lua...
O grande astro-reflexo,
ilumina a vida crua
e o ser a ela anexo

Brilha nos olhos de cada ser
Movimenta a vida sob si
Se na existência ela faz valer,
Na destruição, ela sorri.

Voam as brasas até o céu 
Pequenos brilhos que se confundem
numa profusão impregnada de fel
E, como as estrelas, a nós iludem

Cacos jazem cobrindo o chão
Fumaça escurece a tétrica escuridão
O fogo consome até mesmo as estrelas
Enquanto corrói as duras prateleiras

E correm os homens em desespero
Para fora e dentro desse espelho
Não aprendem, a Guerra não cessa
Tal destruição não há o que meça

É a História que arde sob ao Céu
É o Futuro que aqui se enterra
A fumaça faz de si o véu 
Que alenta o homem que berra

É a própria Humanidade que arde
E no espírito dos bons faz alarde
Morreu assim a Esperança,
Com tristeza, desprezo e desconfiança.

X

Amanheci com minha cidade envolta em névoa
Pensei ter sonhado tanto que acordei nas nuvens

IX

Sim, eu penso no que vou escrever
Mas antes não pensasse.
Antes corressem os versos livres
como um corcel das estepes.
Uma pena não poder ser livre...

Tempos Modernos

Se digo aipim, forçam macaxeira
Se digo que sim, faço asneira.
Pois se penso que não,
me descem a mão.
E urram orgulhosos, de peito cheio
que sou violento, fruto do meio.
Bem poderia baixar a face, não discordar...
Mas ora! Qual a graça de viver sem acordar?

VIII

Morte aos intolerantes!
Que o Estado nos liberte!
Que a pobreza enriqueça!
E pra vida nunca desperte.

VII

Fingem a igualdade
Defendem a bondade
Mas tratam da liberdade
Como ferida que arde

VI

Sabe, sangra a memória aqui...
Todos rugem a história
Imersos num quadro de Dalí

L6

Se escolho a carne devorar
No sangue permito banhar
Na vida d'um outro qualquer
Que a própria vida não soube viver

L5

Sangra o ferro e escorre vida
Dá-me de beber da tua ferida
Enquanto sugo a fila vermelha
Projetada além de tua veia

Vivas tripas imersos no sangue
Azuis, vermelhas e amarelas
Donde jorra o rio que lambe
em ondas de dor além das telas

Grita como o demônio
que está a lhe devorar
Se não gritar, me deixe apreciar
essa tua vida antes que torne amônio

Para mim não é tortura
se te trato com tamanha ternura
Amo-te ao ponto de guardar em mim
tua vida, tua carne, teu espírito, sim.

L4

Afasta-te ou devoro-te!
Com teu corpo podes ficar
Pois só me interessa tua alma
Consumir tua mente, apagar o olhar
Quero comer o brilho de vida
Quero tomar para mim teu sorriso
Meu prazer está em viver matando
Meu morrer está em matar vivendo
Não se preocupe, não te deitarei aos vermes
Em mim estará sempre vivo
Levarei em minha existência a tua também

L3

Sinto o sangue correr meu corpo
Para agarrar-me à carne do morto
E sentir dele o sangue correr
Para minha garganta, gerando prazer

O ferro rubro oxidado
Em rio suculento me foi dado
Macios são os músculos rasgados
Outrora fortes, jazem acabados

A luz de olhos antes vivos
Ilumina agora meus intestinos
Saboreio a vaga vida restante
No ser que arqueia ofegante

L2

Corre, pequeno ser.
Corre! Dá-me o prazer!
Amo ver-te a correr
Amo ver o desespero crescer

Desvia de mim a todo custo
Soca, esfaqueia meu rosto
Tenta de toda forma me matar
Para assim tu poder sossegar

Porque se assim não fizer, eu farei
Estou morto em mim, eu sei
Por isso me alimento da vida
Que, porventura, agora é de sua lida

Mas logo será inteira minha
Sou eu a lâmina que corta a linha
Aquelas três velhas nada sabem
Devorarei vida a vida até que me matem

L1

Se está preso, quebre a corrente
Se não puder, arranque o braço
Devora então o carcereiro
Devolve à morte a vida que o criou
Destrói a pedra dos arredores
Faz explodir no peito a ira
Liberta de si a própria mentira
Acaba com o mundo se puder
E, se assim for necessário, da aos vermes o que comer

Alexandria

Arde, minha Alexandria...
Desaba, minha agonia...
História nunca tivemos,
vide o presente que vivemos.
Haja esperança!
O futuro na criança?
Jamais.
Não mais...

Out-rubro

É demais esperar o mínimo do gênio humano...
Não aprendem com o passado,
não se importam com o futuro.
Mais vale a forma que o conteúdo.
Pensaram mesmo que havia acabado o Parnasianismo?
Escolhem aparências e individualidades
enquanto bradam sobre inteligência e igualdade.
Atingir a paz pela guerra, a tolerância pela intolerância.
E tamanha é a hipocrisia que nisso veem justiça
Me pergunto quanto mais irá durar
a aventura humana sob liderança "popular"

Conversa de setembro

Minha fronte arde também
Como se espalham as chamas, meu bem...
Ah mas que tristeza que me dá
Só me resta mesmo orá
-Então é sumemo, seu dotô?
-Esse fogo num procupa o sinhô?
-Me entriste demais da conta, seu Tião.
-Nosso futuro tá queimando, meu bom...
-I comé que faiz agora?
-Si nois já nem tem história...

P5

Face a ti, criador
Cá estou. 
Faz-se a ti, criador
Morto eu sou.

P4

Olhe para mim.
Encare tua criatura
Nunca fui vivo
em minha essência
Nunca escolhi
o ardor de viver.
Ao contrário, sou frio.
Pedra mármore,
pedra pomo.
Nada além de um belo
e sublime
Sarcófago.

P3

Na aurora da vida surgiu
Pouco a pouco soergueu
Edifício dos pesares eternos
Mímese do seio materno
Casa dos desvaecidos
Orgulho do menino caído

P2

Se esquece do peso do mundo
Sobre os ombros, sempre mudo
Fixo, imóvel, imortal
Antes fosse pedra o gigante mental

P1

Sob o manto de uma vida
escorrem lágrimas.
Correm e se escondem na pedra
Donde racha a rocha
um inteiro rio surge
Não bastasse sua fúria
A voz do menino ruge.

XIII

Te viste, sonhador?
Oraste, pecador?
Acorda antes que vá
meu pensamento há
de acabar après de ça

XIV

A pessoa à minha frente um dia esteve também viva. Um dia ela amou, para no outro odiar. Um dia ela sorriu, para no outro poder chorar. Um dia desejou morrer, para no outro querer viver. Um humano como qualquer outro, como qualquer um de nós. Viveu como estamos vivendo e morreu como ainda iremos.

Não consigo assumir minha cor

Não consigo assumir minha cor porque nunca passei fome. Não consigo assumir minha cor porque não lutei pela terra. Porque não morri em mãos de policial ou fila de hospital. Porque me julgam como "branco dominador". Porque não cresci em tribo, quilombo ou favela. Porque tive ambos os pais, avós e até bisavós. Porque meus sonhos são ambiciosos. Porque desejo ter dinheiro e investir. Tenho sangue africano, tupi e europeu. Sou pardo. Não branco. Minha pele não determina minha moral. Nada diz ela senão que sou fruto dos cantões desse mundo.

Perdido ser

Como parte de um todo universal
Age o homem minério e carnal
Fruto desse conjunto de acasos
Geradores de verdadeiros asnos

Não sabe lidar com tamanho poder
É apóstolo de seu mero parecer
O conjunto de ruínas do universo
Este é o humano, ser perverso

Descobriu em si a transformação
A crescente vontade de um titã 
Porém viu-se preso à razão

Se submete a uma essência sã 
É a singela síntese da infinita ação 
De toda a história, é a imaculada cortesã

Ideia

Como uma luz que pisca
Um vagalume nas trevas
Brilha a ideia e arrisca
por um . afastar as névoas

Desgotosa do incômodo
Toda treva se ilumina
E trata de apagar logo

Foge ao longe, luzinha
Busca onde possas ser sol
Um lugar em que não seja sozinha
Pra se deixar expandir pelo hall

XV

Imposto
Posto
Propõe 
Põe 
Impõe 
Impostor

XVI

Imprensa
Pressa
Presa
Prensa
Impressão

Política

Política é ótica, não ética.
Alguns querem mantes as lentes
e trocar a armação,
Outros amam a armação,
ainda que se troquem as lentes.
Há também quem se desgosta
e troca logo a coisa toda.
Ou aqueles que nem se
metem a pôr um na cara.

Afora isso, as próprias lentes
são exemplo máximo.
mesmo sem enxergar, muitos 
sequer buscam mudança.
Há lentes com grau
extremo ou nenhum.
Qual permite melhor o mundo enxergar?
Ora, lente serve a quem lhe cabe.
Alguns poucos percebem que não
precisam de lente alguma
E passam a ver o mundo 
com os próprios olhos.

Dores

Se dói tanto, por que não quero me curar? Quero ser visto? Notado? Quero ser vítima? Acolhido? Sei que estou com problemas, mas como ter certeza? Até onde sou capaz de sentir?
O desespero me tortura, mas me faz sentir vivo. Como se estivesse implodindo enquanto tento explodir. Como se fosse gigante e ao, mesmo tempo, minúsculo. Como se fosse demônio e, ao mesmo tempo, anjo. Não é tão controverso assim, não é?
Louco? Não... É assim que chamam os sonhadores, e eu não sei se sonho. Tenho medo da viva, não da morte, mas amo a primeira e desprezo a segunda. Esperança faz sofrer, desilusão não. Não me sinto capaz, mas quero lutar. Me sinto acabado, mas não sei desistir. Seja o viver ou morrer, me sinto pressionado a seguir o rumo. Odeio a trilha, mas não consigo desviar dela. Queria fugir, mas não depende só de mim. Não posso abandonar as pessoas, não posso me libertar.

Só lhe dão

Só lhe dão murros
Só lhe dão gritos
Só lhe dão medo
Só lhe dão raiva
Só lhe dão tristeza
Só lhe dão desgosto
Só lhe dão solidão

Poesia?

Como não houvesse poesia
Choram pela discórdia
Deste velho novo mundo.
O profeta tornou moribundo.

Não há mesmo beleza
Se recusam a tristeza
E encaram com frieza
O que merecia sutileza

Ora, o mundo é poesia
O poema nele se cria
N'alma dele é que surge
A tormenta do espírito que urge

XVII

Quando a verdade se torna dor, as piores mentiras tomam forma de remédio.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Norapaia

Do homem ao longe se vê agonia 
A espera tortura morte fazia 
Alma desperta areia rangia 
Nota rota esquecido bipolar 

Vejo Tejo corre e se esconde calote 
Graceja briga dorme come morre 
Ava espanca escapa de tudo pode 
E nutre ventre feito luto escorre 

E vive governa aguenta rei pobre 
Nobre cerveja na mesa de porre 
Fica desgraça regaça cachaça 
E apaga rasga se apega amassa 

Viste virgem ofensa ave morta 
Espera oferta não desperta agora 
Hoje chora explora devora alerta 
Ao peito ouve homem de agonia ele ora 

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Ninfas...

Voam as ninfas em profusão
Sob a gélida e cálida escuridão
Atiram-se sobre a estrada,
Como musa não amada...

Ora, pode uma musa não ter louvor?
Pode uma estrela perder seu calor?
Ah, pois lhe digo que tudo pode
Pois é em outubro que toda sorte eclode

Não se deixe enganar pelo ar da primavera
Não se deixe levar por essa "nova" era
A sociedade não muda, meu caro...
Vendo a troca de peles eu não me calo.

É época das cores, veja bem...
Mas sempre causa dores todo esse vaivém
É daqui que nasce o carnaval,
E é aqui que morre o individual.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

XI

Minha alma tem espinho como nesta Terra não há...
As ideias que a mim permeiam se espalham pelo ar...

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

À Escrita e seus servos

Desenhamos com palavras o invisível aos olhos, o impossível de existe. Todo um universo cabe num pequeno verso de um poema submerso nas memórias d'um idoso qualquer.
Cada palavra é um desenho, um símbolo, um nada. A tradução de um milênio de nossa evolução. Todo nosso legado gravado no mudo gritar d'um par de sinais.
Quanta graça e singularidade há nessa obra! Seja ela a escrita de uma criança ou um manuscrito de perfeita caligrafia. Cada detalhe desses sinais expressa em si parte d'alma de seu autor.

A Marca de Cam

Por que oprime a si mesmo?
Por que se cala e dobra?
Onde está sua coragem?

Tu forjaste os grilhões que carregas
Tu colheste o ferro e o ouro
Tu lutaste as grandes guerras
Tu criaste os grandes impérios em agouro
Sim, tu! Pois carrega em si o sangue negro
Em teu peito bate o motor da humanidade
Em teu espírito urra o poder da irmandade
É essa tua pele que te honra
São teus antepassados os guerreiros d'aurora
Herdaste a grandeza, nasceste pra glória
Pois toma tua rédea e parte agora!

Todo homem e mulher que a ti antecedeu
hoje olha por você e está contigo
Essa pele que tens sob o sol já ardeu
num deserto escaldante, um solo antigo
Dominaste a natureza, então domina a si!
Destrói as correntes e liberta-te!
Não és fruto do pecado,
és nobre muito honrado.
Pois então grita aos céus tua linhagem!
Brada contra reinos o ardor da liberdade
Honra tua raça, honra teu poder!
Tu fizeste a sociedade e ela fez você!
Grita, homem, urra!:
"Sou negro! Carrego a marca desta etnia!
Minha história o silêncio esmurra.
A cor dos imperadores! A cor da liberdade é minha!"

V

Donde mora o caráter humano?
Por onde vai a história presente?
O que disse nosso futuro?
O que dirá nosso passado?

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Os facistas que ladram

Vejo o sádico sorriso que nos lábios lampeja
Ao ouvir sobre a vida que o corpo despeja
Brilham os olhos das acéfalas massas
Que urram: "não és vivo até que nasças!"

Enquanto debatem direitos e deveres
Se perdem na indecência de seus poderes
Pois podem matar sem nenhuma dificuldade
Serem indefesos, futuro da humanidade

Fingem não ouvir os rápidos corações
Batendo em conjunto, gritando sem voz
Se recusam a ver o tétrico massacre
E torcem o nariz à vida, como cheiro acre

Desgastam a essência do que é ser humano
Infectam a memória, o corpo tornam profano
Urram em defesa à uma vida enquanto outra matam
E assim seguem cegos e surdos os fascistas que ladram

Do Cárcere à Liberdade

Preso no cárcere rubro
Sinto o cheiro do férreo sangue
A corrente me prende desde outubro
Não há tempo para que a ferida estanque

A escuridão é o que me cobre
O calor é o que me acalma
E ainda que eu não tenha sangue nobre
Em mim também arde uma alma

Ouço então a voz do carcereiro
Discute seu método e preço
Fala sobre um tal estancieiro
que lhe prometeu dar novo começo

Soa enfim uma outra voz
Suave, maternal, linda pra mim
Tento falar, tocar sua foz
Mas nada ocorre, nesta torre de marfim

As vozes num instante se calam
Perco meus sentidos, mas ainda vivo
Virão me buscar, as pinças estalam
Vêm me tirar do cárcere e prender ao crivo

Num momento estou deitado
no outro, a dor meu corpo percorre
Sinto todo meu ser desmembrado
E assim toda minha esperança morre

Da corrente estou livre enfim
Mas de que serve a liberdade ao morto?
Como posso ter morrido assim?
Me roubaram a vida num mísero aborto?

Em guia

Desde os tempos da aventura
De uma vida regada à loucura
Sou eu meu próprio carrasco
Que se impõe contra o duro casco

Costumo ferir qualquer que venha a me amar
Não sei de onde veio essa sina de desgraça
Mato, espanto, fujo, me abrigo
Corro do amor como a noite foge do sol
Na aurora de cada nova mulher nunca me deixo estar
Mas no ocaso torno a retornar
E então vejo ao longe a luz aos poucos se apagar
E novamente me encontro sozinho
Com a lembrança da Luz a brilhar
Refletida no grande satélite natural
Mas eu estou sozinho imerso em minha própria solidão
Enquanto brilha o reflexo do futuro que não mais terei
E brilham as luzes dos fantasmas d'outrora
Dos muitos amores já há muito mortos
Dos filhos que jamais nascerão
Das vidas que escolhi jamais viver
Das escolhas que é acho sacrificar
Dos sacrifícios que preferi escolher

Sentidos

Sinto o calor dos abraços
Sinto os cheiros dos cabelos
Vejo os brilhos dos olhares
Ouço os suspiros da noite
Toda vida enervada
Todo fogo o mundo tomando
Nunca existiu.

Aurora

Luz do sonhos inexistentes
Esperança das almas ardentes
Sol que queima a noite
Vida que açoita a morte
Nascer do meu ser 
Minha Aurora

domingo, 15 de julho de 2018

IV

Não esqueça jamais o homem
Do último primeiro ato
Do quadro inacabado
de uma vida bem vivida

III

A vida é um teatro
A cada ato trocamos de figurino
Mas o ator não dá voz a si
Não antes da peça acabar

II

Foge ao frio o movimento
Foge aos mares o controle de si
Foge ao fogo sua origem
Foge à vida o sentido
Foge ao amor a felicidade

I

Se um dia houve no homem esperança
Neste dia ele morreu
Treva da minha aurora
Frio do meu verão
Meu céu, meu abismo

sábado, 2 de junho de 2018

Ameba

Foge aos meus braços o limite do universo 
Foge à minha mente o eu submerso
Dos anos passados navegando sem saber
Fingindo liberdade, enganando meu ser

Se a vida nos limita, a morte nos impede
Não há liberdade nisto que à vida sucede
Manda aos infernos dos românticos ideia esta
Nem à vida, nem à morte, liberdade resta

Contente-se ao cárcere de nunca livre ser
Pois assim vive e morre sem dor ou agonia
A morte não espera e não se apega ao viver

Com toda existência tu vive a harmonia
E não espera, e vive, e morre sem nunca sofrer 
Assim desta vida tu sente a sinfonia

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Norapaia

Do homem ao longe se vê agonia
A espera tortura morte fazia
Alma desperta areia rangia
Nota rota esquecido bipolar

Vejo Tejo corre e se esconde calote
Graceja briga dorme come morre
Ava espanca escapa de tudo pode
E nutre ventre feito luto escorre

E vive governa aguenta rei pobre
Nobre cerveja na mesa de porre
Fica desgraça regaça cachaça 
E apaga rasga se apega amassa

Viste virgem ofensa ave morta
Espera oferta não desperta agora
Hoje chora explora devora alerta
Ao peito ouve homem de agonia ele ora

domingo, 6 de maio de 2018

Vivo

Em meio à tempestade me veio uma visão
D'um ser tão perfeito que era puro coração
E notei donde estava, no corpo de tal ser
Eu era também ele, como pude perceber

Em casa grão d'areia eu vi existir
Parte minha, parte Dele, movendo em rio
Se transforma e se mantém, por infinito a fio
E em todo o Ser, todo ser pôde residir

Tempesta

Cada grão d'areia neste deserto
Sobre o qual pisei e ao qual aspirei
Fez a trilha desta vida, estou certo
E os montes é tempestades que superei

Não fosse por aspirar tais grãos,
jamais os teria sentido em minhas mãos
misturado ao sangue seco, sem água 
Símbolos do dos sofrimentos pelos quais passava

Não fosse o vento das temíveis tempestades
jamais teria eu conhecido as maldades
que a vida questão faz de ser repleta
enquanto das palavras continua predileta.

Se um dia urrei, amaldiçoei a existência
Ali percebi toda minha incompetência
Recorri ao Pai, rogando socorro
E Ele te trouxe, me fez erguer de novo

terça-feira, 17 de abril de 2018

Fantoches

Se prendem um homem desonesto
O mundo desperta em manifesto
Mas, se morre algum qualquer,
O silêncio se faz choffer

Dirige o carro do povo a todo lugar
Orienta gestos e ações do popular
Cego por sua própria consciência
Preso ao cárcere da conivência

Acaso odeia o homem pensar?
Porque não vejo um sequer a falar
de ideias de fato reais,
mas de homens e seus ideais.

Me canso até mesmo de xingar
Pois desses homens já deu de falar
Amam a ignorância com todo seu ser
E jamais à razão desejam conhecer.

Idealista II

Preencha o teu cu com alegria
Porque amas gemer aos ares
Esta ideia que é pura orgia 
E com cada puta faz seus pares

Fale a todos o que quiser
Cuspa a bosta que te enche a boca
Sei que nada mais tem a dizer
Além do julgamento d'um'alma oca

Cospe aos ventos frases da moral
Enquanto no teu rabo enfia o ideal 
De um mundo impossível d'existir
Mas que tu mesma imagina parir

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Idealista

À puta que pariu estas ideias
Dedico este novo poema nascente
No âmago do feto inexistente
Abortado à luz de platéias

Se quer esconder tua culpa, vá
Foda-se tua vontade, teu motivo
Se verá face à Justiça, vá
Que Judas te prenda ao crivo

Vá foder um melão, que ganhas mais
Do que espalhando essas bostas ao ar
Às quais tu chamas "ideais"

Me esqueci o que de bom tinha a falar
Pois xingando me deixei estar

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Um Grande...

Qual a razão desse viver desordenado?
Ao qual minh'alma dá vazão
Sentimento impuro, inacabado
Sem qualquer resquício de razão

Diabos! Não quero sentir!
Ou quero?
Que cale o hábito de mentir!
Ou grite?

Que se acabe com toda essa merda!
Me cansei da lírica
Que se foda essa vida lerda
E com ela toda rima da poesia

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Novum Diligitis

Tu, morada e habitante dos sonhos meus
Dona de minha mente e coração
Ganhou-me com estes olhos teus
Que abalam meus sentidos, minha razão

Conquistou cada pedaço de mim
Ressuscitou o que eu jurava não sentir
Tua voz calou meus medos assim
E tua alma permitiu à minha existir

Surgiste de um sonho, estou certo
E trouxeste consigo um pedaço de céu
Em teu sorriso vejo o caminho aberto
Para o paraíso que será te ver sob o véu

Deus não age nesta vida sem motivo
E não deixa de atender nossos pedidos
Por isso roguei por meses, altivo
E Ele sussurrou em meus ouvidos:

"Segue teu coração, não tenhais medo"
"Eu sou teu Pai, a tua sabedoria"
Cada passo me guiou ao segredo
E até você eu cheguei, minha alegria

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Escapista

Por que me tiraste tantas vezes do abraço da morte?
Por que não me me deixou à minha sorte?
Que motivos teve em me salvar?!
Apenas para em meu próprio ser afogar?

Nasci apenas para morrer, meu Pai
Fui lançado nesse mundo para sofrer
E a cada segundo minha vida se esvai
E a cada segundo quero desaparecer

Confesso que houveram bons momentos
Mas me cansei de tantos tormentos
Cuidado deveria ter a lhe pedir
Pois não sabes dosar a medida do sentir

Não pedirei que me mate, meu Pai
Não pedirei que me salve, deixai
Lhe pedi a força e me deste a pior fraqueza
Sei tua sina, mas não posso vagar sem minha cabeça

Profeta ingrato

Inesperado chamado de Deus ouvido
Maldito fora o homem que recebeu
Pois vivia na paz, na alma adormecido
Agora não se aquieta sequer em Morfeu

Benditos são os cegos em espírito 
Pois nunca souberam a verdade
Continua no locus amenus teu rito
E Dele nada veem além da bondade

Ora, por que viestes a mim, Pai?
Eu sei o quanto lhe clamei e pedi
Mas agora, sem ti, todo mundo cai.

Pedi pra ouvir tua voz, eu pedi
Agora tua palavra de minh'alma não sai
Não importa fugir, pois em ti renasci