quinta-feira, 17 de outubro de 2019

XXVI

Faço da oração meu poema e do poema meu desabafo.
É isso que estou a fazer. Vou para longe dos meus portos, das minhas bases, de tudo que um dia conheci. Vou para longe do que fui minha vida toda.
Enfrentarei o mar aberto. É isso. Sem base alguma onde me apoiar, senão em portos precários pelo caminho. Navegando em um mero barco a remo. Sequer uma nau eu pude ter.
Bem, quem sabe eu faça como Klint e consiga sobreviver.
De qualquer forma estou indo para uma cidade que nunca conheci, enfrentar um clima que nunca suportei, com pessoas que jamais ouvi falar e cursando um curso que me faz sofrer. Pois eu sinto a dor do soldado desconhecido, sinto a dor dos corpos moribundos. Eu sinto pelos que não tiveram o que tenho e pelos que tiveram muito mais.
Os fetos que jamais souberam o que é viver e os adultos que escolheram não saber.
Eu sinto que navegarei às cegas em um mar de trevas. Sinto que cada remada me custará a energia de anos que não tive. Mas ainda assim cá estou. Em pé, frente aos demônios de dentro e fora. Pronto a enfrentar meus desafios enquanto tento conter a fera que urra pedindo destruição. Cá estou eu tentando me convencer do porquê salvar vidas se tirá-las é tão mais simples. Do porque eu estou fazendo tudo isso.
Pois aqui vai: eu também não sei. Não sei o que a humanidade precisa. E bem... talvez não seja de mais um humano. Mas talvez seja exatamente isso. OH CÉUS!

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