Preso no cárcere rubro
Sinto o cheiro do férreo sangue
A corrente me prende desde outubro
Não há tempo para que a ferida estanque
A escuridão é o que me cobre
O calor é o que me acalma
E ainda que eu não tenha sangue nobre
Em mim também arde uma alma
Ouço então a voz do carcereiro
Discute seu método e preço
Fala sobre um tal estancieiro
que lhe prometeu dar novo começo
Soa enfim uma outra voz
Suave, maternal, linda pra mim
Tento falar, tocar sua foz
Mas nada ocorre, nesta torre de marfim
As vozes num instante se calam
Perco meus sentidos, mas ainda vivo
Virão me buscar, as pinças estalam
Vêm me tirar do cárcere e prender ao crivo
Num momento estou deitado
no outro, a dor meu corpo percorre
Sinto todo meu ser desmembrado
E assim toda minha esperança morre
Da corrente estou livre enfim
Mas de que serve a liberdade ao morto?
Como posso ter morrido assim?
Me roubaram a vida num mísero aborto?
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